Continuação da publicação anterior:
Na manhã seguinte, o pintor acordou sozinho na gruta. A fogueira era apenas um entulho de cinzas. Olhou ao redor e não viu Bob. Suas roupas estavam ali do lado. Vestiu-as depressa. Observou ainda que as roupas do louro também estavam na gruta, mas seu cinturão com os colts, não.
Saiu às margens do Trinity, e chamou o nome de Bob. Obteve nenhuma resposta. Continuou margeando as águas do rio, buscando algo para comer e chamando pelo bandoleiro de vez em quando.
Do alto de uma colina rochosa, eis que surgiu a figura lépida do bandido, nu e com o sol nascente às costas, em carreira desenfreada pela margem do Trinity. Gritava a plenos pulmões: "Fuja, Jhony! Os índios nos acharam!"
Jhony, assustado, não esperou um segundo aviso. Pôs-se a correr desesperado na direção oposta ao caminho que percorria. Logo, bandido e pintor estavam lado a lado quando ouviram o tropel de alguns cavalos montados por índios que ululavam ferozmente.
Bob, seguido por Jhony, rumou para uma garganta pensando encontrar um local seguro para defender-se dos perseguidores, mas acabara caindo numa cilada. Três índios, emboscados no alto das paredes rochosas, aguardavam-nos ali.
Quando penetrou a estreita passagem, um tiro passou zunindo pela cabeça de Bob, que reagiu fulminante. Atirando-se ao chão instintivamente, o bandoleiro sacou as pistolas como um raio e pôs fim a vida do índio que tentou contra sua vida enfeitando-lhe a testa com um buraco. Matou o segundo índio entocado com a mesma velocidade impressionante do primeiro e feriu mortalmente o terceiro.
Fugiu dali com Jhony antes que aparecessem mais peles vermelhas. Já podiam ouvir os berros arrepiantes dos índios e o tropel de suas montarias aproximando-se quando tornaram a repetir o ato desesperado de outrora: saltar no Rio Trinity.
•••
As águas levaram os corpos dos dois companheiros para longe dali. O eco dos gritos indígenas foram diminuindo com a distância. Bob conseguiu agarrar-se a uma pedra numa curva sinuosa do rio e alcançar sua margem junto do apavorado Jhony Wally.
-- Malditos! -- vociferou o inglês, escorrendo a água dos cabelos com as mãos.
Naquela manhã, Bob parecia mais tenso que de costume. Jhony o seguia com a vista, pra lá e pra cá, também preocupado. O pistoleiro parou e, apoiando as mãos na cintura musculosa, encarou o pintor profundamente, com a vista cerrada. Logo, falou:
-- Vou seguir o meu caminho. Desculpe.
Aquelas palavras sérias atingiram Jhony como uma punhalada à traição. O pintor empalideceu ante a possibilidade de ficar sozinho no meio da padaria selvagem. Seus olhos marejaram-se, enquanto apelava à piedade do pistoleiro, debalde.
-- Já disse, diabo! Não posso bancar a babá sempre, portanto, a partir de agora é cada um por si. -- sentenciou o facínora, inexorável.
Jhony ajoelhou-se aos seus pés, dramático, e agarrou-se a uma das pernas nuas do celerado bonitão, ameaçando não solta-la mais. Educadamente, Bob pediu:
-- Solte-me. Vai ser melhor assim.
No entanto, o pintor continuou agarrado a sua cocha musculosa, com o rosto bem próximo ao seu pênis e seus testículos. Pôde sentir-lhe o cheiro fresco da genitália. Sentiu muita vontade de beija-lá, sentir seu pênis latejar na boca, mas conteve-se disso.
-- Vamos, me solte! -- pediu o bandido constrangido, apertando o saco timidamente, como se quisesse escondê-lo na mão.
-- Só se prometer que não me abandonará...
-- Pare de frescura. Largue da minha perna. Está me deixando embaraçado, maldição!
-- Não. Sinto-me seguro aqui.
-- Estou perdendo a paciência, diabo! -- disse Bob, sacando seu colt, engatilhando-o e mirando a cabeça de Jhony -- Se não me largar agora, estouro seus miolos; tenho nada a perder mesmo!
Um silêncio sepulcral sucedeu as palavras do pistoleiro, tomando o lugar por alguns segundos. Jhony continuou agarrado ao louro bruto, corajosamente, mesmo sob a ameaça de morte. Este finalmente abaixou a arma:
-- É durão, hem? Se eu atirasse, poderia denunciar nossa presença aos índios. Desta vez eu te poupei, da próxima já não sei mais -- fazendo o inglês larga-lo com um sacolejo forte.
[...]
Continua na próxima publicação.